Seja pela televisão, vídeos na internet ou relatos do próprio vizinho, o Aratu On tem acompanhado, nas últimas décadas, diversos crimes que marcaram Salvador e repercutiram nacionalmente. Muitos deles permanecem sem solução, com histórias interrompidas no coração da capital baiana.
Em parceria com o público das redes sociais, a reportagem reuniu os 10 casos mais chocantes, relembrando os fatos e seus desdobramentos.
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Chacina do Cabula
A chacina ocorreu em 6 de fevereiro de 2015, quando nove PMs mataram 12 jovens negros, de 15 a 28 anos, no bairro do Cabula. Eles foram atingidos por 88 dos 143 tiros disparados. Segundo o MP-BA, o crime pode ter sido motivado por vingança ou por extorsão a traficantes. A promotoria denunciou os policiais por execução sumária, contestando a versão da Polícia Civil, que alegava confronto.
O caso segue sem julgamento após 10 anos. Para o promotor Davi Gallo, “esse caso envergonha a Bahia”.
Chacina dos motoristas por aplicativo
Quatro motoristas foram mortos em 13 de dezembro de 2019, no bairro de Santo Inácio. Um quinto, Nivaldo Vieira, sobreviveu após fugir durante o ataque. As vítimas foram atraídas por falsas corridas e assassinadas com requintes de crueldade. Amanda Santos, uma mulher trans, foi condenada a mais de 63 anos de prisão.
Segundo a polícia, o crime foi encomendado por “Jel”, líder da facção local, morto dias depois por rivais. Outras quatro pessoas foram indiciadas, entre elas um adolescente.
Há duas versões sobre a motivação: roubo de veículos ou vingança por um parente de Jerfeson Palmeira Soares Santos, conhecido como “Jel”, que precisava de um socorro urgente, e nenhuma corrida por aplicativo aceitava entrar na região.
Caso Aysha Victoria
Em 22 de julho de 2024, Aysha Victoria, de 8 anos, desapareceu na porta de casa, em Pernambués. Imagens e mensagens circularam em redes sociais na tentativa de encontrá-la. No dia seguinte, o corpo da menina foi achado a apenas 10 metros da residência, com sinais de estrangulamento e violência. Segundo familiares, ela estava de bruços, com os braços presos.
Joseilson Souza da Silva, vizinho da vítima, confessou o crime. Ele atraiu Aysha usando uma boneca e sandálias da própria vítima. Joseilson havia se mudado recentemente e afirmou que “sempre observava a criança”. Em 2015, já havia sido preso por tentar abusar de outra criança.
Caso Joel
Joel Conceição, 10 anos, foi morto com um tiro no rosto enquanto dormia, em 2010, no bairro Nordeste de Amaralina. A PM alegou confronto com suspeitos, mas moradores dizem que os policiais já chegaram atirando.
Nove PMs foram denunciados. O tiro fatal saiu da arma do soldado Eraldo Menezes, subordinado ao tenente Alexinaldo Souza. Eraldo foi demitido e, em 2024, condenado a 13 anos e 4 meses. Alexinaldo foi absolvido. O julgamento aconteceu 14 anos após o crime.
Caso Cristal
Cristal Pacheco, 15 anos, foi morta durante um assalto em frente ao Palácio da Aclamação, no bairro do Campo Grande, em agosto de 2022. A jovem ia para a escola com a mãe e a irmã quando foi abordada por duas mulheres armadas.
Mesmo com a entrega dos pertences, Cristal foi atingida no peito. As autoras, Andréia Santos e Gilmara Daiam, confessaram o crime.
Ambas foram condenadas a 24 anos de prisão. Gilmara foi denunciada pela própria mãe, e ambas alegaram dependência química.
Caso Marcus Vinicius
Marcus Vinícius, de 2 anos, foi morto pelo padrinho Rafael Pinheiro, que escondeu o corpo em um cooler em Itapuã, em agosto de 2015. Rafael afirmou que a criança passou mal após tomar leite de soja e morreu. Inicialmente registrou o desaparecimento, mas depois confessou ter enterrado o corpo.
Usuário de drogas, Rafael foi preso por ocultação de cadáver e responde por homicídio em liberdade. A mãe do menino, que o deixou sob os cuidados do padrinho, não foi indiciada.
68 Facadas
Em março de 2019, a fisioterapeuta Isabela Conde, 36 anos, foi esfaqueada 68 vezes a mando do namorado, Fábio Vieira. Os agressores tentaram matá-la e a abandonaram na BR-324. Isabela sobreviveu ao fingir-se de morta. Em 2022, Fábio e os cúmplices foram condenados a mais de 10 anos de prisão.
Irmãos Malê
Gustavo, 15, e Daniel Natividade, 21, percussionistas do projeto Malezinho, foram mortos a tiros em outubro de 2024, em Arembepe. Durante um passeio, os jovens teriam feito um gesto de facção rival ao da região. Dois homens em uma moto atiraram contra o grupo. Amigos também foram atingidos, mas sobreviveram.
Os suspeitos foram identificados por câmeras e testemunhas.
Desaparecimentos
Davi Fiúza
Davi Fiúza, 16 anos, desapareceu no dia 24 de outubro de 2014, após ser abordado por policiais no bairro de São Cristóvão, em Salvador. Testemunhas relataram que ele foi encapuzado, teve as mãos e pés amarrados e colocado em um carro descaracterizado, sendo levado sem deixar vestígios desde então.
A família de Davi Fiúza, representada por sua mãe, Rute Fiúza, continua sua luta por respostas e justiça, enfrentando não apenas a dor pela perda do filho, mas também os desafios impostos pela lentidão e complexidade do sistema judicial.
O caso segue sendo acompanhado por organizações de direitos humanos e pela sociedade civil, que exigem celeridade nas investigações e responsabilização dos envolvidos. A primeira audiência foi suspensa em 2024 e ainda não foi remarcada.
Geovane Mascarenhas
Geovane sumiu em 2 de agosto de 2014. Dias depois, o corpo foi encontrado decapitado, carbonizado e com órgãos retirados. Três PMs foram presos provisoriamente, mas soltos após 60 dias.
Na época, o então comandante da Polícia Militar, coronel Alfredo Castro, disse que os agentes afirmam em depoimento que o rapaz foi abordado por ter características semelhantes às de um assaltante que teria roubado uma mulher na região da Calçada. Eles sustentaram que levaram Geovane até à vítima, mas ela não o reconheceu.
Bônus
Mãe Bernadete
Líder quilombola e ialorixá, Mãe Bernadete foi assassinada com 25 tiros dentro de casa, em Pitanga dos Palmares, Simões Filho, em agosto de 2023. Três netos estavam na casa no momento do crime.
Durante as investigações, a Polícia Civil chegou à conclusão de que Mãe Bernadete foi executada por ter se posicionado contra a expansão do tráfico de drogas na região e, especificamente, contra a construção da barraca Point Pitanga City, ponto de venda de drogas.
Kelly Cyclone
Ícone das redes sociais no início dos anos 2000, Kelly Sales Silva, ou como era conhecida, Kelly Cyclone, 21 anos, foi morta em 2011, em Lauro de Freitas. O corpo tinha marcas de tiros e facadas. Dois irmãos foram apontados como autores, mas o MP pediu absolvição. Kelly era conhecida como “Kannariana”, por ser fã de Igor Kannário.
Kelly era conhecida por toda Salvador, principalmente pelo apelido de “Kannariana”, por ser fã do cantor Igor Kannário. Na época, funcionários do Instituto Médico Legal foram demitidos após tirarem fotos da autópsia de Kelly.
Em 2022, o filho dela, Cauan Salles Silva, de 18 anos, morreu em confronto com a polícia. Familiares dizem que ele estava em casa quando foi abordado e reagiu.
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