Legislativo concede Título de Cidadão Baiano a Mestre Curió



Discípulos, amigos, entidades e associações culturais ligadas à capoeira reverenciaram – ao som de quadras e ladainhas com toques de berimbaus, atabaques e agogô – a outorga do Título de Cidadão Baiano, na manhã desta quarta-feira (10), ao Mestre Curió que, aos 88 anos, agradeceu a homenagem, partilhando-a “com todos que fazem a capoeira em geral na Bahia”. A concorrida sessão especial, no plenário da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), teve como proponente a deputada Olívia Santana (PC do B), que dividiu a iniciativa com o coordenador da entidade Capoeira em Movimento Bahia (CMB), Jurandir Júnior, conhecido como Jacaré de Alabama.
 
Jaime Martins dos Santos – nome de batismo de Curió, que saiu da Paraíba para a Bahia aos 2 anos e seis meses de idade – foi conduzido ao Plenário Orlando Spínola pelo cerimonial da Casa. O capoeirista foi recepcionado pela Orquestra de berimbaus IGBADU, formada por mulheres capoeiristas de várias gerações, estilos, hierarquias e grupos, sob o comando da historiadora e mestra de capoeira Janja Araújo. Emocionou a plateia também a participação da artista mirim, anunciada pela proponente como “a cantadeira”, que entoou versos, com resposta da plateia: “Curió me ensinou a capoeira / A capoeira me ensinou a amar / eu sou forte para dar uma rasteira / você não é forte para me derrubar”.
 
Tanto Olivia Santana quanto Jacaré de Alabama relataram a dificuldade em ver o projeto de resolução que concedeu o título a Curió ser aprovado na ALBA. O próprio homenageado contou que esteve, por cinco semanas, acompanhando as sessões presencialmente. “Foram cinco semanas no sofrimento. Já ganhei vários títulos no mundo e não vi tanta burocracia”, desabafou o Mestre Curió, “filho, neto e bisneto de angoleiros”, que já foi venerado no México, Suíça, Argentina, Iraque, Alemanha, Bélgica, Equador, Japão e Estados Unidos.
 
A parlamentar definiu o Mestre Curió como guardião de saberes, defensor da cultura popular, mestre que inspira gerações e uma das maiores referências vivas da Capoeira Angola no Brasil e no mundo. “São 65 anos dedicados à capoeira, formando gerações, preservando saberes e levando nossa cultura para além das fronteiras do país. Sua atuação contribuiu de forma decisiva para que a capoeira se consolidasse como patrimônio cultural brasileiro e como expressão reconhecida internacionalmente”, registrou.

Olívia Santana – que é autora da Lei Moa do Katendê (Lei nº 14.341/21) de salvaguarda e incentivo à capoeira no Estado da Bahia – destacou o trabalho social do homenageado, referência de educação, cidadania e inclusão social, com crianças da comunidade Colina do Mar, entre Coutos e Paripe. Também anotou sua atuação para a preservação da cultura afro-brasileira como presidente da Escola de Capoeira Angola Irmãos Gêmeos do Mestre Curió, no Conselho Gestor da Salvaguarda da Capoeira do Iphan Bahia, e no Conselho Municipal das Comunidades Negras de Salvador.
 
Para Jacaré de Alabama, Mestre Curió é uma das pessoas imprescindíveis da capoeira e reverenciá-lo é valorizar o caráter de luta da capoeira, “que não é a luta que fazemos dentro da roda, e sim o que fazemos na vida, na roda da vida”. A procuradora do Ministério Público da Bahia, Márcia Virgens, ressaltou que fez uma escolha de agenda, diante da concorrida Semana do Ministério Público da Bahia 2025, para prestigiar o Mestre Curió e a todos que fazem da capoeira um instrumento de resistência. “A branquitude insiste em nos segmentar e nos excluir. Mas se eles combinaram de nos matar, nós combinamos de não morrer”, disse, fazendo referência à escritora Conceição Evaristo.
 
“Que o exemplo de Mestre Curió continue guiando nossos caminhos, fortalecendo nossa cultura e inspirando resistência”, ratificou Olívia Santana. A cerimônia foi encerrada com a participação do cantor, compositor e capoeirista Tonho Matéria, que iniciou sozinho, com voz e berimbau, uma ladainha típica, assumida, tão logo, pelo próprio mestre Curió, que arregimentou o coro e músicos presentes no plenário da Assembleia.
 
Além dos citados, compuseram a mesa de honra do evento a gerente de patrimônio imaterial do Ipac, Ellys Almeida; o secretário estadual de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, Augusto Vasconcelos; a delegada e madrinha do Grupo Capoeira do Mestre Curió, Marita Souza; a vereadora do município de Alagoinhas, Juci Cardoso; a integrante do Conselho Salvaguarda da Capoeira, professora Negona, representando a mestra Princesa; o gestor do Forte da Capoeira, Vitor Marques; e as baianas Michele e Núbia. Também participou da solenidade a secretária estadual de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos de Comunidades Tradicionais, Ângela Guimarães.



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