A Assembleia Legislativa da Bahia celebrou, nesta sexta-feira (19), os 20 anos do Núcleo de Matriz Africana da Polícia Militar do Estado da Bahia (Nafro), uma proposição do deputado Marcelino Galo (PT). “É com profunda reverência e uma imensa alegria que esta Casa abre suas portas hoje para esta sessão especial que representa um marco de reconhecimento a uma unidade que está conectada às profundas raízes culturais do povo baiano. Estamos aqui reunidos para homenagear uma organização que transcende o ordinário e se consolida como pilar de resistência, inclusão e diálogo”, declarou o parlamentar.
Depois da composição da mesa de honra e da execução do Hino da Bahia, ao som do flautista subtenente PM Rainer Kruppe, o petista fez um longo discurso sobre a importância do Nafro, um braço da PM criado para garantir a representatividade de policiais de religiões afro-brasileiras, proteger as tradições, combater o racismo e a intolerância religiosa, além de oferecer suporte emocional e promover a diversidade na corporação. “Ela surgiu para dar voz aos policiais que professam a fé no candomblé e na umbanda, a partir de muita luz e resistência, onde já havia na PM núcleos de católicos, evangélicos e espíritas. Duas décadas depois, o Nafro consolida-se como um verdadeiro símbolo de transformação institucional e de respeito irrestrito à diversidade”, pontuou o petista.
Galo lembrou que em janeiro de 2026 serão completados 50 anos de um decreto do então governador Roberto Santos, acabando com a exigência, feita aos Terreiros de Candomblé, de solicitar autorização, à Delegacia de Jogos e Costumes, para a prática de cultos e realização de festas religiosas. “Tanto tempo depois, o povo de santo da Bahia ainda é vítima de violência política e intolerância religiosa. Terreiros e Casas de Candomblé são vilipendiados, invadidos e até mesmo depredrados por pura expressão de preconceito e desrespeito às diferentes manifestações religiosas do povo negro”, frisou.
INTOLERÂNCIA
Marcelino Galo parabenizou os integrantes da unidade, exaltando a coragem, a dedicação e a fé inabalável de todos que têm sustentado este projeto tão bonito e necessário para a democracia, a diversidade e a paz. “Esta homenagem é mais do que um simples reconhecimento, é um gesto simbólico de reparação histórica. É a Assembleia Legislativa da Bahia, em voz alta e uníssona, afirmando seu valor e apoio ao trabalho do Nafro, reconhecendo que, ao promover o respeito à diversidade religiosa, vocês cultivam a paz no seio da nossa sociedade, combatendo a intolerância e semeando a compreensão”, destacou o legislador.
Após o pronunciamento, oficiais e praças ficaram perfilados para ouvirem a canção “Força Invicta”, o Hino Oficial da Polícia Militar da Bahia. Em seguida, os alabês e os atabaques ecoaram forte no Plenário Orlando Spínola, na apresentação musical com o cântico para os orixás “Inzila Exu”, uma forma de quebrar magias ruins e abrir novos caminhos. Fundador do Nafro, o sargento PM RR Evilasio Bouças fez questão de ressaltar a luta dos seus ancestrais por direitos e repeito, saudou o sargento Eurico Alcântara, que mora no Rio de Janeiro, por ter sido um pioneiro na criação do núcleo, e registrou as conquistas, ao longo dos anos, com o surgimento de cursos e grupos de pesquisas raciais, além da criação da Ronda Omnira, de proteção à liberdade religiosa. “Temos ainda muito o que avançar. Precisamos que as várias instâncias, como Secretaria de Reparação, Secretaria de Promoção da Igualdade e também os deputados, que são os nossos representantes, vejam a situação de violência contra os povos de matriz africana, pautando este tema para que, em algum momento, a gente possa viver em uma sociedade mais justa e igualitária”, pediu o militar da reserva, também presidente do Conselho Municipal de Entidades Negras de Salvador.
IGUALDADE RACIAL
Representando o governador Jerônimo Rodrigues, a secretária da Sepromi, Ângela Guimarães, considerou que celebrar os 20 anos do Núcleo de Matriz Africana da PM é reconhecer a luta e a resistência de tantas lideranças religiosas e policiais militares que ousaram sonhar com uma corporação mais plural e democrática. “A nossa Secretaria da Promoção da Igualdade Racial se soma a este marco, reafirmando o nosso compromisso com a liberdade religiosa, a valorização das tradições afro-brasileiras e a construção de uma Bahia onde a diversidade seja, de fato, um pilar de cidadania e da igualdade racial”, reiterou a chefe da pasta, salientando que o Nafro “é referência nacional na valorização da diversidade religiosa dentro das forças de segurança”.
Foi uma sessão especial com a presença de autoridades e religiosos de todos os espectros da religiosidade baiana. Participaram da solenidade a tenente-coronel PM Maria Cleydi, representando o secretário Marcelo Werner, da SSP-BA; o tenente-coronel PM Jusceval Amorim, representando do comandante-geral da PM, coronel Magalhães; a deputada Olívia Santana (PC do B); o capelão de matriz africana da PM-BA, tenente RR Joílson Libânio; a tenente BM Raileide, representando o comandante-geral do Corpo de Bombeiros Militar da Bahia, coronel BM Aloísio Mascarenhas; Egbomi Nice Spíndola Ty Oiá, madrinha do Nafro-OPM; Egbomi Maria Antonieta, madrinha do Núcleo de Matriz Africana do Exército, Marinha e Aeronáutica (Neafro); a defensora pública Raquel Malta, representando a Defensora Pública Geral Camila Canário; a diretora de Promoção da Igualdade Étnico-Racial Oilda Rejane, representando a secretária municipal da Reparação de Salvador, Isaura Genoveva; o capelão da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, cônego Lázaro Muniz; a procuradora Maristela Barbosa, representando a Procuradoria Geral do Estado.
Comentários