Incidente em universidade em Salvador mantém alerta sobre torcidas organizadas; Bepe mapeia bairros com mais brigas


A recente briga registrada na Faculdade Unijorge, em Salvador, chamou atenção para um problema recorrente e silencioso: o impacto da rivalidade entre torcidas organizadas fora dos estádios. Na noite de quarta-feira (11), dois homens foram presos após agredirem um jovem por conta de uma jaqueta com estampa de uma torcida organizada. O caso aconteceu dentro da instituição de ensino, e um dos agressores portava uma arma de brinquedo, apreendida pela Polícia Militar. Os dois foram encaminhados à Central de Flagrantes. Apesar da gravidade, não houve disparos nem feridos graves.

 

O episódio, que ganhou repercussão nas redes sociais e entre estudantes da universidade, escancara um cenário já conhecido pela Polícia Militar. Segundo o tenente-coronel Carlos Flávio Góes Farias, comandante do Batalhão Especializado de Policiamento em Eventos (Bepe), Salvador possui uma série de bairros mapeados por registrarem com frequência confrontos entre torcidas rivais.

 

“Essas torcidas estão distribuídas em comandos e distritos por diversos bairros. Regiões como a Avenida Suburbana, Periperi, Imbuí, Itapuã e principalmente o entorno da Arena Fonte Nova costumam demandar atenção especial do nosso efetivo”, explicou o comandante em entrevista ao Bahia Notícias.

 

Os conflitos, conforme o oficial, ocorrem geralmente antes ou depois das partidas, quase sempre nas vias de acesso aos estádios ou em bairros periféricos. 

 

“Na janela de duas horas durante o jogo, o policiamento já está concentrado e dificilmente há confronto. Mas antes e após, os embates se tornam mais recorrentes”, relatou.

 

Apesar de circularem boatos sobre disputas territoriais entre facções ligadas às torcidas, o tenente-coronel afirma que não há confirmação oficial de envolvimento sistemático com o crime organizado. 

 

“Recebemos alguns relatos, sim. Sabemos que há uso de substâncias proibidas por parte de alguns associados, mas não temos elementos concretos que liguem essas torcidas a facções criminosas de forma estruturada. O que há são casos pontuais, como em outros setores da sociedade”, avaliou.

 

A PM também acompanha com atenção os chamados “pontos de agrupamento”, locais onde torcedores se concentram antes de se deslocar para os jogos. “Esses locais variam bastante, mas normalmente estão em regiões periféricas ou próximas aos estádios. A violência entre torcedores não é comum em bairros como Stella Maris, por exemplo, mas é mais acirrada em regiões como Mata Escura e Sussuarana”, explicou o Tenente-Coronel.

 

BAVI COM TORCIDA VISITANTE?

Questionado sobre a possibilidade do retorno das torcidas organizadas visitantes nos estádios baianos, atualmente vetadas por questões de segurança, o comandante do Bepe afirmou que a medida continua em fase de debate entre as autoridades.

 

“Eu cresci vendo as duas torcidas nos estádios e acredito que isso é algo benéfico para o clima de festa. Mas, com o cenário atual, esse é um tema que precisa ser discutido com as demais instituições que compõem o anel de segurança pública do estado, além da participação de empresas privadas que administram os estádios”, ponderou.

 

MAPEAMENTO ESTRATÉGICO

Para lidar com os riscos, o Bepe trabalha com base em inteligência policial, mapeando áreas críticas e atuando preventivamente com patrulhamento reforçado nos dias de jogos. A presença ostensiva da PM é acompanhada por ações de monitoramento, inclusive com o uso de tecnologia e apoio de unidades especializadas.

 

“A atuação do batalhão não se limita ao entorno dos estádios. Monitoramos as redes sociais, usamos informações da nossa inteligência e buscamos atuar sempre antes que os conflitos ganhem proporções maiores”, explicou o comandante.

 

O caso na UniJorge, embora isolado, reforça a necessidade de atenção permanente da sociedade e do poder público sobre o comportamento violento de parte das torcidas organizadas, que extrapola os limites do esporte.

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