
Uma das mais antigas e emblemáticas manifestações religiosas e culturais de Salvador, a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos celebra, esta semana, um ano de reconhecimento oficial como Patrimônio Cultural Imaterial da Bahia. O ponto alto da festa ocorrerá neste domingo (26), com a celebração de missa festiva às 10h, seguida de procissão pelo Centro Histórico de Salvador.
O registro como patrimônio imaterial foi concedido após um amplo processo técnico e de pesquisa conduzido pela Gerência de Patrimônio Imaterial (GEIMA) do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), vinculado à Secretaria de Cultura do Estado (SecultBA).
O dossiê de registro, elaborado pelo GEIMA, reúne levantamentos históricos, análises socioantropológicas, registros fotográficos e depoimentos dos próprios detentores do bem cultural. O processo teve início em 2018, a partir de uma solicitação formal da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, e foi concluído em 2023, com aprovação do Conselho Estadual de Cultura em 20 de outubro de 2024.
Patrimonialização e salvaguarda
O registro da Festa no Livro do Registro Especial dos Eventos e Celebrações simboliza o compromisso do Estado com a proteção e valorização do patrimônio imaterial da Bahia. A patrimonialização fortalece as ações de salvaguarda, assegurando a preservação da memória, a continuidade das práticas culturais e a valorização da identidade afro-baiana, para que as novas gerações conheçam e participem dessa manifestação.
Além de garantir visibilidade e apoio institucional, o reconhecimento reafirma o papel histórico das irmandades negras como protagonistas da cultura baiana. A Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, em especial, representa um marco de autonomia e solidariedade: formada por pessoas negras, livres, libertas e escravizadas, que se uniram para construir seu próprio espaço de fé e devoção.
“Registrar a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos é mais do que reconhecer uma tradição: é fortalecer a memória e a identidade de um povo que construiu sua cultura com coragem, fé e resistência. A patrimonialização garante que essas histórias e práticas continuem vivas, valorizando as irmandades negras como protagonistas de um legado que é de toda a Bahia”, destaca Marcelo Lemos, diretor-geral do IPAC.
Fé, ancestralidade e resistência
Realizada anualmente em outubro, a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos soma cerca de 340 anos de tradição. A celebração acontece na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Largo do Pelourinho, templo erguido no início do século XVIII pelo esforço de homens e mulheres negras, muitos ainda escravizados. Desde então, o local se tornou símbolo da resistência negra e da devoção mariana, onde a fé católica se entrelaça à ancestralidade africana em um dos maiores exemplos de sincretismo religioso do país.
Durante os festejos, o Pelourinho se transforma: missas, cortejos, cânticos e percussão tomam as ruas, misturando espiritualidade, arte e tradição. O evento atrai fiéis, moradores e visitantes, todos imersos em ritos, apresentações culturais e homenagens aos antepassados. É um momento de renovação da fé e reafirmação da história de um povo que transformou dor em devoção e resistência em cultura.
O reconhecimento como Patrimônio Cultural Imaterial reforça a importância da Festa do Rosário dos Pretos como uma das expressões mais autênticas da identidade afro-baiana. Mais do que preservar um ritual religioso, o registro assegura a continuidade de uma tradição que simboliza fé, memória e pertencimento, reafirmando o papel das irmandades negras na formação cultural da Bahia.
Programação 2025
Neste ano, as homenagens a Nossa Senhora do Rosário dos Pretos têm como tema “Com o Rosário na mão e os pés no chão da vida: 340 anos de fé, justiça e compromisso com o Reino de Deus”. A programação começou, oficialmente, em 7 de outubro, com as novenas celebradas sempre ás 18h, e se estende até segunda-feira (27).
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