A lagoa escura da música de Dorival Caymmi ganha um novo contorno, com a entrega da primeira etapa das obras de revitalização do Parque Metropolitano do Abaeté, em Salvador, nesta quarta-feira (3). O governador Jerônimo Rodrigues, acompanhado de secretários de Estado, entregou a reforma da Casa da Música e do Centro de Atividades, que retoma a ocupação da área comercial da Lagoa do Abaeté. As inaugurações marcam os 32 anos de fundação do Parque Metropolitano.
Vivendo há 45 anos no final de linha de Itapuã, Edclaudio Lobo, conhecido como Nego de Itapuã, diz que a revitalização vai reposicionar a Lagoa do Abaeté no roteiro turístico da capital baiana. “É um empreendimento completamente novo, com uma estrutura muito boa, com mais segurança. Como nativo, eu frequentei muito o Abaeté quando era criança. A gente tomava banho, nossas mães lavavam roupa no Abaeté. Nossas raízes, as raízes do povo de Itapuã estão, aqui, nessa lagoa. Essa obra reinsere o parque no turismo soteropolitano”, avaliou.
A primeira etapa da revitalização do Parque do Abaeté, executada pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) em parceria com o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), também contemplou a modernização do posto da Polícia Militar, que agora conta com uma estrutura de videomonitoramento de toda extensão do Parque; a implantação de sistemas sustentáveis, como os de captação de águas pluviais e placas fotovoltaicas para geração de energia limpa; e a recuperação da infraestrutura e do parque infantil. O aporte foi de R$ 5,5 milhões.
“Aqui é uma Área de Preservação Ambiental (APA) carregada de história: das ganhadeiras, da música popular brasileira, dos grupos de afoxés. O meu desejo é que a comunidade de Itapuã tenha nesse ambiente lazer, diversão, segurança, pertencimento cultural, e que as escolas possam fazer passeios pedagógicos. Aqui conhecemos mais da história da Bahia”, enfatizou o governador Jerônimo Rodrigues.
No Centro de Atividades, 14 pontos comerciais tiveram melhorias nos acessos, adequando o espaço para pessoas com deficiência, e o restaurante e a cozinha foram reformados. Durante a cerimônia de inauguração dos novos espaços, o Estado anunciou a publicação de edital de Chamamento Público para a ocupação de 12 espaços comerciais. Serão priorizados empreendedores da região de Itapuã.
Para a segunda etapa da obra, o chefe do executivo baiano assinou ordens de serviço para a construção do Centro de Memória e da Casa do Samba das Ganhadeiras de Itapuã. Os espaços culturais terão investimento estimado em R$ 3 milhões e áreas destinadas a exposições de arte, oficinas formativas e apresentações artísticas e musicais.
Casa da Música
A Casa da Música teve requalificadas a fachada, a cobertura, a parte elétrica e hidrossanitária. A estrutura cênica e a climatização do espaço também passaram por manutenção. Cerca de R$ 260 mil foram destinados aos trabalhos, que ainda incluíram mudanças no paisagismo e instalação de saídas de emergência no equipamento cultural.
Segundo o secretário da cultura, Bruno Monteiro, a Casa da Música tem 700 peças preservadas da cultura musical da Bahia. “Nós temos 700 peças nesse equipamento, que vão desde manuscritos de partituras, fitas de áudio e vídeo, instrumentos de artistas da música baiana, até a fobica — o primeiro trio elétrico da história. E tudo isso em um espaço que é muito integrado e apropriado pela comunidade”, destacou.
O local ainda abriga projetos do bairro, shows e apresentações de grupos tradicionais como o das Ganhadeiras de Itapuã. O guitarrista baiano, Armandinho, esteve na inauguração e reforçou que a Casa da Música também mostra para o mundo a história do carnaval. “O primeiro trio elétrico é onde tudo começa, a partir desse carnaval elétrico, a partir de Dodô e Osmar. É super importante que as pessoas tenham conhecimento da nossa história, da guitarra baiana, através do turismo e de quem estuda a história da Bahia”, pontuou.
Parque Metropolitano do Abaeté
Aberto em 1993, o Parque Metropolitano do Abaeté é composto por ecossistemas de lagoas interligadas, dunas, vegetação de restinga e espécies endêmicas, como o lagartinho-do-Abaeté. Ao longo dos anos, o espaço foi associado a atividades religiosas de matriz africana, à memória das lavadeiras e à poesia de Vinícius de Moraes, Dorival Caymmi e Toquinho.
Repórter: Milena Fahel/GOVBA
