Bahia apresenta diagnóstico sobre a inserção da juventude negra no mercado de trabalho entre 2013 e 2023


Bahia apresenta diagnóstico sobre a inserção da juventude negra no mercado de trabalho entre 2013 e 2023
Bahia apresenta diagnóstico sobre a inserção da juventude negra no mercado de trabalho entre 2013 e 2023

Foto: Erlon Souza/Sepromi

Apresentado nesta segunda-feira (24), durante a abertura do Encontro do Trabalho Decente e Combate ao Racismo, o boletim “Para pensar o futuro: Juventude Negra e Mercado de Trabalho na Bahia” apresenta um panorama rigoroso e atualizado sobre a realidade da juventude negra no estado ao longo de dez anos, entre 2013 e 2023. O estudo é resultado de uma parceria entre a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (Sepromi), a Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e, sua divulgação faz parte da programação do Novembro Negro 2025.    

Integrando as ações do Observatório do Trabalho da Bahia, o boletim utiliza dados anuais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC/IBGE) para analisar a situação de jovens negros de 15 a 29 anos no mercado de trabalho baiano. O estudo compara a trajetória desse grupo com a de jovens não negros e com a população de 30 anos ou mais, contribuindo para a formulação de políticas públicas voltadas ao enfrentamento do racismo, da exploração e da precarização do trabalho juvenil. A apresentação foi realizada pela técnica do Dieese Ludmila Giuli.

Entre os principais achados, o boletim aponta para a redução do contingente de jovens negros no estado. Em 2013, eles representavam 35,4% da população em idade de trabalhar, proporção que caiu para 29,4% em 2023. Entre os jovens não negros, a queda foi de 30,9% para 26,8%. A diminuição é ainda mais expressiva quando observada por faixa etária: entre 15 e 17 anos, houve redução de 14,7% (90 mil) entre negros e aumento de 21,7% (28 mil) entre não negros; entre 18 e 24 anos, queda de 11,9% (174 mil) entre negros e alta de 7,7% (22 mil) entre não negros; já entre 25 e 29 anos, a redução foi de 5,7% entre negros e 19,8% entre não negros.

Menos apoio
A queda no número de jovens reflete diretamente na taxa de participação – proporção de jovens ocupados ou em busca de trabalho – que também recuou ao longo da década. O estudo lembra que esse indicador não inclui estudantes, donas de casa, aposentados ou pessoas impossibilitadas de trabalhar.

Entre os jovens negros, a taxa de participação sofreu forte desaceleração em 2020 (52,2%), devido à pandemia de Covid-19, mas recuperou-se em 2022 (64,2%), atingindo o maior valor da série histórica. Em 2023, houve leve queda para 61,2%, porém a taxa permaneceu superior à dos jovens não negros e também à da população com 30 anos ou mais. O estudo destaca que, em períodos de crise, jovens não negros conseguem permanecer mais tempo fora do mercado de trabalho, reflexo de maior suporte econômico familiar, enquanto jovens negros tendem a ingressar ou retornar mais rapidamente à força de trabalho.

Permanência estudantil
O boletim revela avanços expressivos na permanência escolar de adolescentes entre 15 e 17 anos, especialmente entre jovens negros. Em 2013, 63,8% dos adolescentes negros dessa faixa etária apenas estudavam; em 2023, essa proporção subiu para 74,3%, mesmo com a redução do número total de jovens negros no estado. Entre os não negros, o percentual passou de 62% para 64%, acompanhando o crescimento do grupo em termos absolutos.

O estudo também registra queda acentuada na inserção precoce no mercado de trabalho entre jovens negros. O número de adolescentes negros que estudavam e trabalhavam ou procuravam emprego caiu 29,8% em dez anos, enquanto entre os não negros houve aumento de 24,3%. Entre aqueles que trabalhavam ou buscavam trabalho sem estudar, a redução entre negros chegou a 55,2%, passando de 30 mil para 13 mil, ao passo que entre não negros houve pequena variação de 7 mil para 8 mil jovens.

O contingente de jovens que não estudavam e não trabalhavam também diminuiu de forma significativa: queda de 56,9% entre os negros e 20,3% entre os não negros. Para os autores, esses resultados refletem avanços de políticas de transferência de renda e ações de combate ao trabalho infantil. Entre os programas de permanência estadual se destacam o Bolsa Presença, do Governo do Estado, o Pé-de-Meia, implementado pelo governo federal.

No entanto, o boletim observa que parte dessas mudanças pode estar relacionada à redução da própria população negra de 15 a 17 anos, que diminuiu 14,1% no período, enquanto o número de jovens não negros cresceu 21,3% — o que exige novas investigações sobre mudanças demográficas e seus impactos.

O boletim completo está disponível aqui.

Fonte: Ascom/Sepromi