Uma surpreendente “Banda Um”, da lavra do início dos anos 1980, seguida de “Tempo Rei”, dava a pista do que seria a noite, com um equilíbrio entre a redescoberta de pérolas pinçadas das dezenas de discos de Gil e clássicos imortalizados. Vieram, na sequência, o xote “Eu Só Quero um Xodó”, de seu parceiro Dominguinhos com a esposa Anastácia, e a bossa “Eu Vim da Bahia”, que trazia referências a Dorival Caymmi e João Gilberto.
Gil voltou ainda mais no tempo. Primeiro foi aos tempos da Tropicália, com “Procissão”, seguida de “Domingo no Parque”. Essa última um retorno a 1967, quando no festival da Record apresentou a música marco inicial do movimento. Quase 60 anos depois, parecia novinha, saborosa e provocante, com arranjos atuais, mas sem deixar de referenciar o passado.
Na sequência, um vídeo de Chico Buarque em diálogo com Gil relembrou outro momento marcante, mas desta vez triste, de nossa história. Quando, em 1973, a ditadura militar censurava simples canções e desligou os microfones dos dois artistas durante a execução de “Cálice”, parceria da dupla, durante o festival Phono 73.

Gil só voltou a cantá-la com Chico 45 anos depois, no festival Lula Livre. Na Fonte Nova, pela primeira vez, inseriu a música em seu repertório. Entremeada com imagens do período da ditadura, incluindo vários presos e desaparecidos políticos, como o jornalista Vladimir Herzog e o ex-deputado Federal Rubens Paiva, torturados e mortos durante o regime. A música foi um dos momentos mais emocionantes e marcantes do show.
Serve “para os jovens ficarem atentos”, como disse Gil no show. Não à toa, o público reagiu aos gritos de “Sem Anistia”, em protesto contra a proposta de absolver os acusados da tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023.
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