Mapa da inadimplência: veja valor das dívidas e o perfil dos endividados em Salvador



Soteropolitano tem dívida média superior a três salários mínimos

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida

Publicado em 19 de março de 2025 às 05:00

Endividamento aumentou
Endividamento Crédito: Joédson Alves/Agência Brasil

O Mapa da Inadimplência da Serasa revelou que Salvador tem 1,2 milhão de pessoas com o CPF negativado por endividamento. O número corresponde a 26% dos inadimplentes da Bahia – o estado, atualmente, possui 4,6 milhões de pessoas no vermelho, conforme dados mais recentes da Serasa referentes a janeiro deste ano. Ao total, a quantia média da dívida de cada soteropolitano ultrapassa o valor de três salários-mínimos. >

Segundo a educadora financeira Cinara Santos, integrante da comunidade de criadores de finanças da Serasa, o maior vilão das contas em aberto é o mau uso do cartão de crédito. “As pessoas acabam comprando no cartão de crédito sem controle e, com os juros bem altos, acabam contraindo uma dívida bem grande”, aponta. >

Ela explica que a forma mais comum para adquirir uma dívida é a falta de planejamento, que é comum a muitos soteropolitanos que fazem uso do cartão de crédito. “As pessoas começam a comprar, compulsivamente, e não planejam nem anotam. Isso reflete um costume ruim do brasileiro de não gostar de falar sobre dinheiro e finanças, nem mesmo dentro de casa. Isso faz com que as pessoas comprem sem controle e ultrapassem o valor do salário”, diz Cinara. >

“Quando se compra no cartão de crédito, há uma sensação muito leve. A psicologia do dinheiro fala sobre isso, que as pessoas não têm uma sensação de perda. Quando se gasta dinheiro, existe essa sensação de estar perdendo alguma coisa, mas no cartão, não. Há essa sensação de dinheiro infinito”, analisa a educadora financeira. >

Em Salvador, o valor médio das dívidas dos consumidores do município chega a R$ 4.967,87, o equivalente a mais de três salários-mínimos. Além do cartão de crédito, os principais complicadores do orçamento dos soteropolitanos são os bancos e as contas de consumo, como água, energia e gás de cozinha. Em janeiro, outros gastos que contribuíram para o valor médio das dívidas foram as contas das festas de fim de ano, material escolar, IPTU, IPVA e outros compromissos relativos ao início de cada ano. >

Para o economista Marcelo Ferreira, o endividamento do soteropolitano, sobretudo com contas de consumo, reflete o momento da economia brasileira que, apesar de apresentar bons números, não consegue oferecer aos brasileiros o barateamento de produtos. É o que ele chama de ‘inflação percebida’ superior a inflação oficial. >

“No momento que se tem a percepção de encarecimento de vários produtos, que é um fato, inclusive entre gêneros alimentícios, isso faz com que o poder de consumo da população reduza bastante, já que a renda se mantém praticamente a mesma. Se isso acontece, há uma tendência de endividamento das pessoas”, afirma. >

Perfil dos endividados

Na capital baiana, quem mais sofre com o endividamento são as mulheres (52%), com idades entre 41 e 60 anos (65%) e entre 26 e 40 anos (33%). No leque de motivos para a aquisição de dívidas, está a desigualdade salarial. “As mulheres são mais impactadas porque são elas que ganham menos, já que, historicamente, têm uma renda mais baixa do que homens. A maior parte das dívidas é com cartão de crédito”, destaca Cinara Santos. >

A educadora financeira pontua que o fato de ter o CPF negativado faz com que muitas das soteropolitanas sofram com impactos que excedem o orçamento financeiro. “Pesquisas falam que a pessoa endividada tem produtividade 5% menor. Então, há menor produção no trabalho, impacto na relação familiar, nas relações de trabalho e no sono. Pessoas endividadas sofrem mais de ansiedade e depressão, porque quem está com dívida não dorme bem. A saúde financeira está totalmente ligada com a saúde mental”, enfatiza. >

A atendente Maria Heloísa Assis, 23 anos, admite que tem vivido sob estresse por conta de uma dívida de aproximadamente R$ 4,7 mil. Ela conta que todo o processo de endividamento começou com uma mudança há alguns meses. Sem dinheiro na reserva, ela recorreu a empréstimos com amigos e familiares e, desde então, as finanças se tornaram uma bola de neve. >

“Como eu fui morar sozinha, o fato de ter despesas com aluguel, alimentação, contas de energia fez com que eu não conseguisse pagar esse empréstimo. Nesse tempo, eu precisava de um celular novo e acabei comprando um aparelho com um valor acima do que minhas condições permitiam, o que aumentou a minha dívida, mas consegui parcelar em 12x. Atualmente, tenho também minha fatura do cartão de crédito em aberto”, relata a jovem. >

Para tentar sanar as contas no vermelho, Maria Heloísa está tentando um segundo emprego. Enquanto isso, tem tentado lidar com a angústia da incerteza diária. “É estressante, porque meu salário é baixo, os alimentos não param de subir e custos de moradia custam são altos. Só minhas despesas de aluguel e contas da casa consomem uns 45% da minha renda, então conciliar as despesas obrigatórias de todo mês é muito difícil”, define. >

Uma professora de 31 anos, que preferiu manter a identidade em anonimato, tem uma dívida que ultrapassa em R$ 5 mil o valor do salário mensal que recebe, sem contar as faturas futuras do cartão de crédito, que são estimadas em R$ 4 mil. Ela conta que tudo começou com uma mudança na data de pagamento da empresa em que trabalha, que fez com que contraísse débito com o cartão. >

“Fiquei com uma fatura aberta por quase 15 dias a mais e boa parte dos meus gastos são no cartão de crédito, o que me trouxe uma dívida final naquele mês muito maior do que costumava ser. Infelizmente, cometi o erro de parcelar algumas dessas faturas, o que me trouxe juros”, conta. >

Para tentar remar contra a maré de dívidas, a professora diz que tem dado cursos e trabalhado horas a mais, além de ter passado a renunciar ao que antes era comum. “Deixei de comprar tanto coisas mais supérfluas, como roupas ou comidas específicas, a menos que seja algo pontual ou com necessidade. Espero conseguir sanar [a dívida] até o fim do ano, mas realmente tem sido um desafio, porque as despesas básicas também estão mais caras”, fala. >

Confira dicas para sair do vermelho

1) Anote todas as suas dívidas >

Relacione valores (total e valor das parcelas); Taxas de juros; Bancos e empresas credoras; Data de vencimento das parcelas; Prazo total de quitação da dívida. >

2) Categorize as despesas em: >

– Essenciais: aquelas que garantem a sobrevivência, como aluguel (ou financiamento imobiliário), energia, condomínio, gás, água, alimentação, itens de higiene, transporte e medicamentos. >

– Necessárias : importantes para manter a qualidade de vida, como plano de internet, plano de saúde, academia, etc. >

– Supérfluas: despesas relacionadas ao lazer e desejos de consumo, como delivery de comida, restaurantes, assinaturas de streaming, viagens, etc. >

3) Separe um valor para as dívidas >

Veja qual quantia mensal sobrou para ser destinada ao pagamento das dívidas >


Para regularizar a situação de endividamento, o consumidor poderá contatar diretamente o credor ou acessar gratuitamente o site ou o aplicativo Serasa Limpa Nome, cujos descontos chegam a 99%. Foque nas dívidas que negativaram o seu nome. >

5) Faça a separação entre dívida cara x dívida barata >

Dívidas caras são as que têm maiores taxas de juros, fazendo com que o saldo devedor seja alto. Por isso, às vezes vale pegar dinheiro em um banco com juros menores se for para quitar a dívida com juro maior. Avalie. >

6) Se puder, adiante parcelas >

Ao fazer uma renda extra, receber bônus, comissões ou o 13º, não pense duas vezes: amortize quantas parcelas puder para pagar a dívida mais rapidamente. Dependendo da instituição financeira, é possível ter descontos no adiantamento das parcelas, principalmente ao amortizar as parcelas finais. >

7) Avalie seu endividamento >

Existem casos em que endividamento se dá por conta de gastos excessivos e desorganização financeira. Por isso, responda: quais foram os motivos das suas dívidas? O que pode ser feito para evitar que novos débitos sejam contraídos e dificultem a vida financeira? O objetivo da avaliação é não retomar a situação incômoda no futuro. >

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